Fiz um compacto dos Subtropicais
Em 2004 vi uma exposição retrospectiva de Andy Warhol na Vancouver Art Gallery no Canadá. Na saída comprei o cartaz alusivo à mostra, contendo seu mais célebre autorretrato. Desde então este pôster me acompanha onde quer que eu more. Olho pra ele habitualmente há 10 anos. É uma relação similar à que tenho com o espelho do banheiro. Familiar.
No mesmo banheiro, além de espelhar minhas remelas diariamente, agora vejo outra obra que pertence ao imaginário artístico universal. Em 2012 conheci vis-à-vis a Guernica de Picasso. Já era brother, após anos e anos de adolescência olhando pra ela na sala do meu pai. Surpreendeu-me que o painel original era gigante, ocupava uma sala inteira do museu Reina Sofia em Madrid. Na saída comprei finalmente “a minha” Guernica, de proporções de bolso. Hoje ela mora em cima da minha patente.
Esta relação com obras de arte que confesso poderia ser vulgar, não houvesse hoje a possibilidade de usos mais heterodoxos ainda, como vestir cuecas de Campbell's Soup. No meu caso, ainda as prego na parede, preservando uma fruição menos longe da tradicional, torcendo pra que a “aura” não se vá.
É neste contexto que passo a contar o uso que fiz do disco Produto da Modernidade, da banda Subtropicais. Recebi o CD numa caixa amarela dos correios. Abri e enfiei no som do carro. Rodamos uma semana juntos. Foram poucos engarrafamentos, portanto não deu pra ouvir na íntegra de uma vez só. Mas quem defende a imperiosa necessidade de curtir da primeira à última música de forma ininterrupta, e depois resenhar faixa a faixa?
Ouça o disco aqui.
De cara, o nome Subtropicais sugeriu-me uma estética que passei a buscar no álbum, às vezes pulando pra música seguinte, às vezes voltando e escutando de novo a mesma. O resultado foram duas composições prediletas que passei a ouvir insistentemente, como integrantes de um LP compacto. Não o mais comercial. Não o mais cool. O mais Subtropicais na minha visão.
Gostei pacas e ouso apostar que a banda está na melhor forma dentro das faixas 5 e 8. Obviamente, buscava um sotaque que justificasse o “sub”. Encontrei latente na música “A Cruz dos Anos”. Progressiva, do compasso milongueiro 4/4 passa pro 6/8, sem largar as guitarras. Letra confessional, de forma irônica incorpora elementos da mitologia sulina, como “o amargo” e o “chão que eu piso”. Contraponteando a valentia: “medo raso”.
Mas o lado A seria mesmo “Terra a Vista”, rock básico, com riff circular. Tri bem cantada, a letra é simples e de filosofia rock’n’roll. Sem solos de guitarra, o brilho fica por conta das percussões, ora com timbre de tambor, ora de lata. Nela achei talvez a sequência de “sub”, contida em “tropicais”. E as duas faixas juntas resumiriam o trabalho da banda.
Não se trata de reduzir uma obra de 14 peças a duas. É escolher um rosto para me espelhar, ou uma gravura cubista para mirar no vaso diariamente. Sou um produto da modernidade.
No mesmo banheiro, além de espelhar minhas remelas diariamente, agora vejo outra obra que pertence ao imaginário artístico universal. Em 2012 conheci vis-à-vis a Guernica de Picasso. Já era brother, após anos e anos de adolescência olhando pra ela na sala do meu pai. Surpreendeu-me que o painel original era gigante, ocupava uma sala inteira do museu Reina Sofia em Madrid. Na saída comprei finalmente “a minha” Guernica, de proporções de bolso. Hoje ela mora em cima da minha patente.
Esta relação com obras de arte que confesso poderia ser vulgar, não houvesse hoje a possibilidade de usos mais heterodoxos ainda, como vestir cuecas de Campbell's Soup. No meu caso, ainda as prego na parede, preservando uma fruição menos longe da tradicional, torcendo pra que a “aura” não se vá.
É neste contexto que passo a contar o uso que fiz do disco Produto da Modernidade, da banda Subtropicais. Recebi o CD numa caixa amarela dos correios. Abri e enfiei no som do carro. Rodamos uma semana juntos. Foram poucos engarrafamentos, portanto não deu pra ouvir na íntegra de uma vez só. Mas quem defende a imperiosa necessidade de curtir da primeira à última música de forma ininterrupta, e depois resenhar faixa a faixa?
Ouça o disco aqui.
De cara, o nome Subtropicais sugeriu-me uma estética que passei a buscar no álbum, às vezes pulando pra música seguinte, às vezes voltando e escutando de novo a mesma. O resultado foram duas composições prediletas que passei a ouvir insistentemente, como integrantes de um LP compacto. Não o mais comercial. Não o mais cool. O mais Subtropicais na minha visão.
Gostei pacas e ouso apostar que a banda está na melhor forma dentro das faixas 5 e 8. Obviamente, buscava um sotaque que justificasse o “sub”. Encontrei latente na música “A Cruz dos Anos”. Progressiva, do compasso milongueiro 4/4 passa pro 6/8, sem largar as guitarras. Letra confessional, de forma irônica incorpora elementos da mitologia sulina, como “o amargo” e o “chão que eu piso”. Contraponteando a valentia: “medo raso”.
Mas o lado A seria mesmo “Terra a Vista”, rock básico, com riff circular. Tri bem cantada, a letra é simples e de filosofia rock’n’roll. Sem solos de guitarra, o brilho fica por conta das percussões, ora com timbre de tambor, ora de lata. Nela achei talvez a sequência de “sub”, contida em “tropicais”. E as duas faixas juntas resumiriam o trabalho da banda.
Não se trata de reduzir uma obra de 14 peças a duas. É escolher um rosto para me espelhar, ou uma gravura cubista para mirar no vaso diariamente. Sou um produto da modernidade.
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