6 amostras do “puro” portunhol na música
Na reportagem Convergência fronteiriça, publicada no Jornal do Comércio nesta sexta-feira, as misturas entre o português e o portunhol são evidenciadas no cotidiano e num festival de poesia em Santana do Livramento e Rivera. Durante a apuração da matéria, também entrei em contato com artistas que demonstram o quanto o portunhol adere à música popular. Então preparei este material exclusivo para o blog.
Leia aqui a reportagem na íntegra no Jornal do Comércio.
Nesta top list, os trabalhos de três uruguaios fronteiriços e outros três momentos memoráveis em que a mescla idiomática pautou a criação musical neste canto de cá do continente americano. Além de Chito de Mello, Bagayero e Bicho de Frontera, relembre abaixo os projetos Música Menor, Muamba e a saudosa banda Sombrero Luminoso.
Misturado
Chito de Mello é uma referência na música do norte do Uruguai. Desde Rivera, inventa canções baseadas no folclore da região, com uma boa dose de humor. Gravou sete discos independentes, até chegar a Misturado, lançado pelo selo Ayuí, de Montevidéu, em 2016. No álbum, uma amostra exemplar de sua aguerrida defesa do dialeto fronteiriço e das causas populares. Na canção Rompidioma, por exemplo: “Tengo mi doma/ No canto en broma/ Soy rompidioma/ Y no toy ni aí”. Ou na faixa Y no es por me gavá: “Sé que a algunos no les gusta/ que cante pa'los de abajo/ mas m'importa tres carajo/ la opinión d'esos dotor”.
O compositor Daniel Martínez nasceu em Rivera e viveu a infância no Chuí. Sua música é marcada por essa vivência. Cresceu ouvindo no rádio rock brasileiro, cancionistas uruguaios e os grandes da música popular argentina. O resultado desta confluência está no álbum Bicho de Frontera, lançado no final do ano passado. A alternância entre o português e o espanhol marca as canções do disco. O compositor explica que no norte do Uruguai misturam mais as línguas do que no Chuí: “ou tu fala o teu idioma ou tu fala o do outro”. Bicho de Frontera tem produção de Dany López e participação do porto-alegrense Filipe Narcizo no contrabaixo.
Bagayero
Andrés Rivero formou em 2013 a banda de rock riverense Língua Mãe. Hoje vivendo em Montevidéu, canta com o trio acústico Bagayero, que investe nos ritmos da fronteira, principalmente os de herança afro. “Expresso-me em portunhol, porque é a maneira mais honesta de me
relacionar com o íntimo, com os sons que escuto desde o ventre de minha mãe”, revela. O grupo ainda não lançou o primeiro disco, mas possui diversos registros disponíveis na internet. Um deles é a canção Cambalasho, com lyric vídeo que permite a apreciação da escrita do portunhol.
O projeto Música Menor, de Arthur de Faria (Porto Alegre) e Omar Giammarco (Buenos Aires), gerou um disco em 2015. Uma das faixas é Portuñol, em que os cantores revezam seus sotaques em uma letra carregada de cruzamentos entre as línguas ibéricas. “Troca tu boca/ Lo que mi língua toca/ Impura, mistura/ La lengua no oficial”. Além dessa faixa, o álbum inteiro integra as matrizes culturais dos compositores em canções sincréticas, típicas de encontro platinos.
Muamba é o disco de Mário Falcão (Porto Alegre) e Sebastián Jantos (Montevidéu), lançado em 2016 com parcerias, cruzamentos de línguas e ritmos. Além do português e do espanhol, há canção cantada em iorubá, Oya – uma mostra exemplar da confluência cultural afro que congrega os países platinos. Já na faixa que abre o disco, uma celebração das trocas culturais fronteiriças (“No hay aduanas en la mente”), a partir do termo que designa por eufemismo o contrabandista: Muambeiro.
Banda que marcou época no Rio Grande do Sul, liderada por Santiago Neto, que cantava sempre num portunhol “guaipeca”, sem muitos recursos de gramática, mas muita comunicabilidade. O humor era a marca do Sombrero Luminoso, que lançou três álbuns entre 2000 e 2007. Uma ousadia formidável naqueles tempos de rádio FM forte, que ainda proporcionava um circuito de shows de rock no estado inteiro. Destaque para Pura Verdad, Por que te vas e Mi casa es su casa.
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