Sobre o gaúcho Pateta e o apelo comercial local


Esta semana recebi um link, encaminhado pelo pesquisador Lucas Panitz, que me levou ao blog Diário Gauche. Nele, lê-se a postagem “O gaúcho Pateta, dos estúdios Walt Disney”. Para o autor Cristóvão Feil, a criação do personagem Gaúcho Pateta na década de 40, referente ao gaucho argentino, teria inspirado a invenção do tradicionalismo no Rio Grande do Sul.

A postagem traz uma ótima provocação, apesar da simplificação que sugere sobre a história do gauchismo no estado. Paixão Cortes e companhia, os guris do Julinho, podem até ter se inspirado em Walt Disney; quem duvida? Mas é fato que naquela época a literatura sul-rio-grandense já apostava no mito do gaúcho desde o século anterior.

Mas o que tem de mais provocativo e divertido o texto do colega blogueiro é que faz o puritanismo ortodoxo tradicionalista ir por água abaixo. Quem chamou a atenção para esta questão inicialmente foi outro pesquisador, Felipe Azevedo, via email.

Leia o texto na íntegra:
O gaúcho Pateta, dos estudios Walt Disney

O que Cristóvão mais enfatiza é o caráter mercantil do gauchismo. O governo americano teria apropriado-se da figura do gaúcho para fins comerciais. É aquela velha lógica do apelo local para vender qualquer coisa que o mercado global ofereça. Como vestir gorro de lã nos atendentes para tentar inserir hambúrgueres nas refeições da Bolívia.

Podemos observar que esta prática é repetida pelos próprios sul-rio-grandenses. Quando queremos “parecer-ser” gaúchos, apelamos ao mesmo estereótipo da Disney, que não por curiosidade é similar to the cowboy from Texas. Consideramos apelação quando as casas Bahia querem entrar no mercado do sul e vestem bombachas no seu mascote cangaceiro. Mas o que achamos quando a cerveja Polar quer dizer que é daqui e para isso replica chavões gauchescos?

No campo econômico, tudo parece funcionar muito bem. O problema está no campo da cultura. Pois a redundância não serve à criação. O gaúcho estereótipo é muito pobre, não estimula a reflexão, apenas pede reconhecimento instantâneo: “Ah, sim, tem bombacha, então é um gaúcho”.

Há obras de arte bem mais interessantes que este desenho feito por artistas que se duvidar nunca pisaram em solo platino. Com elas podemos ir mais longe em nosso processo de identificação contemporâneo. Da argentina, por exemplo, Atahualpa Yupanqui. De terno e gravata, ou seja, sem bombachas, faz pensar profundamente sobre quem é o gaúcho.

Bueno, essa era minha contribuição. Gracias aos três colegas citados por compartilharem conhecimento, provocações e manterem a chama do debate acesa!

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