O abraço transmidiático da Comparsa Elétrica
Paulinho Goulart, Texo Cabral, Pirisca Grecco, Rafa Bisogno e Duca Duarte lançam DVD de show gravado em Santa Maria (RS) e financiado por crowdfunding (Foto: Benedetti) |
O DVD Comparsa Elétrica – O Filme tem cheiro. Numa faixa exala orvalho evaporando da terra vermelha, noutra fumaça de fogão a lenha. Respirando fundo, sentimos um leve budum que o sol encende do estofamento de uma kombi decana que voltou à moda. O olfato compõe a riqueza de referências que este grupo desperta a partir da música sul-riograndense.
Pirisca Grecco e comparsa falam daquilo que segue brotando na soleira do que costumamos chamar civilização. Não é sobre ímpetos ambiciosos. Há flores no cenário. Tampouco perde-se numa tensão dialógica entre a poluição e a assepsia. É sobre conexão não só com o que foi um coreto, mas principalmente com o que permanece ressignificando. Dialoga com certa candura regional de um Renato Teixeira. Noutra conversa, aquele espírito de banda, de travessura com a gurizada da vizinhança. Se há ruas, vitrines e semáforos, deriva e acena para a banda Beirut tocando na esquina.
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Em volta da singularidade da comparsa, Pirisca Grecco (voz e violão) agrega o mundo. Texo Cabral (flauta) harmoniza, um assopro aqui, uma pausa ali, no intervalo que não passa batido. Paulinho Goulart (acordeon) oferece cada acorde com orgulho e esmero – é como se não fosse titular garantido (cada passe seu, pro ataque ou pra zaga, nunca vem com displicência). Rafa Bisogno (bateria) com a mão leve, conduz a caminhada sobre os trilhos. Se um pé pisar na terra e sair do prumo, não é falta de equilíbrio. Mas se por ventura a turma se perder, Duca Duarte (baixo) puxa as convenções, os fraseados combinados dentro do vagão.
A Comparsa Elétrica revisita neste momento cinematográfico um repertório original de festivais e discos (o último lançado havia sido Clube da Esquila, de 2011). No show, a unidade recai muito sobre a dinâmica de quem canta baixinho. Está nos ares de vanera com compasso de marchinha, de um chamamé valseado, da milonga assumindo o tango como primo próximo.
O cheiro do filme compõe uma narrativa transmidiática que ocorre não só nos suportes tecnológicos (exterior), mas no cérebro (interior) de quem toca e de quem é tocado. Não há limites pro cosmopolita, tio Jenkins. Uns fazem coro junto. Aprumam o fio do bigode. Outros tiram a amizade pra dançar. Os mais conectados podem vir a sentir o eriçar dos pelos no braço.
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