Pentagrama e o espírito de grupo dos anos 70


Diversos grupos proporcionaram momentos de renovação da música de raiz folclórica no Rio Grande do Sul nos anos 70 e 80. Podem ser citados Pentagrama, Os Tapes, Caverá, Canto Livre e até Almôndegas. A linha que estes artistas seguiam levava cada vez mais a uma aproximação e hibridação com a MPB e a música latino-americana.

Mas de alguma forma esta linha evolutiva foi rompida, perdendo espaço em uma cena regional cada vez mais conservadora, principalmente no âmbito dos festivais nativistas.

O Pentagrama é um dos grupos mais originais e inovadores dos anos 70. Tinha em sua formação Jerônimo Jardim, Ivaldo Roque, Loma e Tenison Ramos. Cabeças criativas trabalhando por um fim comum. O disco deles de 1976 dialoga com o rock e a MPB, mesmo que esteja focado em temas e ritmos regionais. Entre os destaques está a faixa Fandangueira, do lado B do LP.

Ouça aqui o disco: Lado A, Lado B.

Depois do fim do grupo, o compositor Jerônimo Jardim alcançou notoriedade nacional com a música “Purpurina”, interpretada por Lucinha Lins, que venceu o Festival MPB-Shell em 1981 no Rio de Janeiro. Na volta ao sul, ele foi apedrejado no palco da Califórnia da Canção Nativa de 1985 em Uruguaiana. O compositor havia cantado uma música com sotaque “castelhano”. Resultado: esse tipo de interpretação passou a ser proibido nas edições seguintes do festival. O episódio é exemplar do conservadorismo que permeia os festivais nativistas do estado até hoje.

Nas décadas de 80 e 90, festivais como o Musicanto Sul-Americano, de Santa Rosa, até tentaram abrir espaço para a renovação da música “gaúcha”. O abrandamento dos regulamentos possibilitou o aparecimento de uma variedade de temas e composições, que não se enquadravam no estereótipo gauchesco. Mas dependendo da comissão organizadora responsável por cada edição, forças tradicionalistas dominam as regras do evento.

Neste ínterim, um fenômeno ocorreu, talvez por consequência da característica competitiva dos festivais. Houve uma dispersão de músicos. Assim, ao invés de manterem a coesão de um trabalho em grupo, optaram por formações ocasionais, visando apenas a defesa das composições nos festivais. No final dos anos 80, talvez o Tambo do Bando tenha sido um dos únicos a manter o espírito criativo coletivo.

Claro que há exceções e trabalhos inovadores, no nativismo e principalmente fora, nos discos de cantautores urbanos. Mas hoje se formos verificar a lista de intérpretes das músicas concorrentes em festivais, não veremos nomes de grupos. A quase totalidade está representada por músicos contratados para defender as composições classificadas. Este sistema talvez seja propulsor da falta de inspiração e da pobreza estética que impera nos palcos pelo estado afora.

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