Santiago Neto e a Liga dos Misionerotrônicos

Santiago Neto apresentou seu novo show no República do Rock, no Teatro Renascença
Naquele ano ocorria um eclipse lunar parcial, visto principalmente aqui nas Américas. O semanário britânico Observer noticiaria a existência da ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado (...). Morreriam a princesa Diana de Gales (...), a missionária Madre Teresa de Calcutá e o cantor e compositor Chico Science (...). Cinco jovens de classe média de Brasília ateariam fogo ao corpo do cacique pataxó Galdino Jesus dos Santos. A empresa estatal brasileira Vale do Rio Doce seria privatizada.

Darth Veder, desta vez, não veio
Não se sabe exatamente a influência destes acontecimentos e de outros, como a estreia na televisão da série South Park, ou lançamentos de CDs como “OK Computer” (Radiohead), e “Ramilonga” (Vitor Ramil). Ou ainda a inclusão da música “Song 2” do Blur na trilha sonora do jogo “Fifa: Road to World Cup”, ou a vitória de um dream team na Califórnia da Canção Nativa, estrelando Luiz Carlos Borges, Mauro Ferreira, Marco Aurélio Vasconcelos, Luiz Marenco, Vinícius Brum e Yamandu Costa, na criação e defesa da composição “O Forasteiro” (...).

Fato é que numa daquelas noites de 1997, começava uma batalha interminável. O músico Santiago Neto lançava o primeiro disco da carreira, “O Pago Revisitado”, no teatro Renascença em Porto Alegre (RS).

"- Que noite de horrorshow, hein, Alex?"
Sem alarde, aquela performance espetacular revelaria as armas do artista, usadas até hoje, após algumas mutações. Nos anos 90, os poderes do herói residiam em seus cabelos longos e se expressavam através de um folk psicodélico e nativista, do gênero dos jacarés (...). Mas a gravidade (idade) prevaleceu e nos anos 2000 Santiago teve que tapar a careca com um sombrero para manter a cuca poderosa, assim sintonizou-se por uma antena de longo alcance a diversas plagas do Estado (...). Na década seguinte, a intermitente ação física acabou invertendo o pólo de força, quando sua barba cresceu tanto quanto a de radicais jihadistas. Agora seu chapéu de lenhador é mera alegoria, identificando-o como guerreiro que não precisa vestir bombachas para se comunicar com o interior mais idílico (...).

República do Rock
Foi fantástica a mais recente aparição do novo avatar do compositor, no último dia 28 de abril no mesmo teatro Renascença (...). Acompanhava-o o fiel escudeiro, clone de Laranja Mecânica, Dudu Yugueros, que mostrou seus super-poderes voando até o teto do teatro, onde sentou e tocou contrabaixo no bis, realizado na parte externa. Grande reforço para a missão, o ciborgue Moysés Lopes, produziu sons incríveis sem utilizar instrumentos musicais, apenas dançando e dando dedadas e narigadas num tablete luminoso. Também alinhado no front, o jovem He-Man, Diogo Stolfo, escalado para as baquetas numa incursão via tele-transporte até Montevidéu, onde expuseram no dia anterior seu rock portunhol na Sala Zitarrosa (...). E completando o núcleo duro, a dupla jedi Restori, programada pelo patriarca Marcelo e desempenhada pelo filho, o cavaleiro Fred, em performance street dance com boleadeiras de luz.

Dizem que mesmo com a Liga Misionerotrônica perfilada, a tão esperada batalha final contra as vedetes, pela dominação do planeta Atlântida (...), nunca ocorrerá. Diferente de muitos ouvintes que fugiram em busca do eterno verão na longínqua Austrália (...), Santiago Neto iniciou um movimento migratório em rede, de avanços e recuos em direção à terra do vizinho Mujica. Pois, seu maior poder enquanto ser mutante reside na luta pela resistência.

"Meu rock'n'roll é quase igual a um chamamé"

Cover de Ramones: Yo no quiero crescer
Quem não voa, usa suspensórios


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