Santiago Neto y Los Misionerotrônicos - Bem sem-vergonha!
O amigo Carlinhos Tabajara, de Passo Fundo, costumava esbravejar nas junções de músicos na porta da faculdade de música, ao vê-los cuspindo e vestindo camisetas pretas: - vão embora pros esteites! Otávio Segala, por sua vez, na capital do estado, costumava ironizar a magrinhagem de calça apertada, idólatras da melhor banda do mundo da última semana na gringa. Os dois dom-quixotes da música brasileira chamavam atenção para esta cultura de achar melhor tudo o que é de fora.
Daí chega o Santiago Neto, após longa estrada com a banda Sombrero Luminoso, quando já cantava em portunhol, e bate no peito: - vou cantar rock com sotaque interiorano e da fronteira! Daí o medo: - Bah, não faça isso, a magrinhagem vai toda torcer o nariz. Canta em inglês que logo vai ganhar capa em uma daquelas revistas paulistanas editadas em Porto Alegre.
Mas pro cara que começou a carreira atacando de folk no meio nativista, no ótimo disco O Pago Revisitado (1997), a coisa nunca foi barata. Neste novo projeto, Santiago Neto y Los Misionerotrônicos, o padrinho Tau Golin, outro dom quixote, pode vangloriar-se de ter influenciado o afilhado a, entre outras, aproximar Vicente Celestino do gauchismo.
Provavelmente este disco Zero Zero do Santo Amém provoque estranhamento, a começar pela cara de Bin Laden do Santiago na capa. Mas pra bom entendedor, não precisa ser especialista em semiótica, o discreto sorrisinho de canto de boca do compositor entrega de cara o espírito da coisa. É a ironia e a alegria de contar causos, costumeira no interior de onde veio o compositor e boa parte da população porto-alegrense, que justifica a originalidade de seu rock’n’roll.
Destaque para a faixa Béde Boy de Nhu-Porâ, “quase um chamamé”. Bem sem-vergonha! Em todos os sentidos possíveis.
E quinta-feira tem baile! No Paraphernália, na Cidade Baixa. Saiba mais aqui.
Ouça o disco aqui.
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