9ª Bienal do Mercosul - porto-alegridad
Porto Alegre recebe a cada dois anos uma enxurrada de arte contemporânea. Na manhã de hoje, com os termômetros em queda livre desde o dia anterior, foi anunciada a previsão: em 13 de setembro, 60 artistas irão mudar o clima da capital.
Estive lá, passando frio, na cerimônia de lançamento, pois não cri na meteorologia. Pero, a apresentação multimídia da curadora-geral da 9ª Bienal do Mercosul transportou-me à amenidade climática de sua terra natal, México. Sofía Hernández Chong Cuy falou em espanhol, desferiu um play em uma canção temática, evocou uma mensagem telepática de um artista desde Buenos Aires, e revelou uma fotografia cara à nossa identidade. Quando escrevo “nossa”, excluo-a, pois não me refiro à latino-americanidad, mas à porto-alegridad.
Sofía exibiu no telão montado no palco do Theatro São Pedro uma imagem que a impressionou quando começou a se ambientar na cidade-sede do megaevento que iria curar. Por mãos amigas, teve acesso à fotografia de um gaúcho pilchado laçando um avião. Independente da origem e das versões possíveis (leia aqui uma), a foto simbolizou para a curadora o conflito entre tradição e contemporaneidade, cultura e tecnologia.
OK. Mas a intempérie mais extrema da manhã ainda estava por vir.
Sofía anunciou e o escritor Eduardo Bueno (Peninha), apoiado apenas em sua verborragia e meia-dúzia de outras fotos, aventou uma contextualização sobre um projeto inédito ensopado de metáforas. Eis que a Bienal irá promover expedições à Ilha das Pedras Brancas, antiga Ilha do Presídio. Quer desvirar as costas da cidade para o Lago Guaíba, sem medo de novas enchentes. Quer que reconheçamos um território tão nosso, tão marcante em nossa geologia milenar e história política recente.
Peninha enumerou razões contundentes para nos interessarmos por aquele pedaço de terra e pedras, a ponto de nos apaixonarmos, nadarmos até lá, vermo-nos espelhados nele e querermos adorá-lo como um totem. Entre os itens estão o isolamento de idealistas durante a ditadura naquela margem de lá e a beleza de pedras milenares que habitam aquela natureza.
Identidade. Subjetividade tão forte da natureza humana. Beneficiária da arte contemporânea. Será um megaevento bienal capaz de transpor nossa sana identitária? Do gauchismo laçador emprestado da campanha, para um ethos mais aquático e coerente com nosso devir? Somos uma ilha?
Saiba mais aqui.
*este blogueiro participou do lançamento da 9ª Bienal do Mercosul a serviço da Fundação Cultural Piratini, realizando cobertura para os programas Estação Cultura e Jornal da TVE 2ª edição.
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