Bagualice e ternura no disco de canções de Yamandu Costa

Pegando o ônibus, entre a cidade natal de Yamandu Costa, Passo Fundo, e a capital do Rio Grande do Sul, pude ouvir seu novo álbum, o primeiro de canções. Enquanto escutava, escrevi uma thread no Twitter (veja aqui), comentando-o de forma mais intuitiva e sensitiva do que em uma resenha tradicional, conforme já publiquei várias aqui no blog. Segue abaixo uma extensão destes comentários, agora em formato “texto corrido” com hiperlinks.

Fui alimentando duas curiosidades desde que se anunciou o lançamento de Vento Sul, o primeiro de canções, compostas e cantadas pelo próprio violonista Yamandu Costa (com a maioria das letras de Paulo César Pinheiro, uma de  Erik Navarro e outra de Vinícius Brum). Agora que o trabalho está disponível nas plataformas digitais, deu pra sacar como se resolveram:

1. Como Yamandu iria equacionar seu toque virtuoso do violão com a melodia cantada das canções?
Agora dá pra dizer: perfeitamente. Os arranjos são de acompanhamento, um acompanhamento luxuoso, de harmonias bem estruturadas mas que não se sobrepõem à voz.

2. Como seria o cantar de Yamandu?
Agora se pode ouvir e perceber uma entoação suave, com momentos mais ternos e outros mais ríspidos. Há dinâmicas mais fortes, com extensão de notas. Mas a regra são as emissões curtas, do tradicional canto baixinho minimalista brasileiro.

Ainda sobre o canto, se fosse localizar a escola de canto de Yamandu, daria pra dizer: escola Mônica Salmaso. Talvez a ambiência brejeira das letras de Paulo César Pinheiro contribua pra essa aproximação com a cantora paulista, que gravou o compositor carioca em Corpo de Baile (2014). Mas para além dessa sensação de similitude que se endereça ao ouvinte, o cantar de Yamandu, ao percorrer desenhos melódicos, às vezes descola do “dizer a letra” e adiciona alegorias de um quê erudito. Bem Mônica Salmaso.


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Entrevista com Yamandu Costa no Jornal do Comércio

No geral, o disco contém canções que tematizam o ser regional, com ênfase no sul do Brasil, mas passeando pela cultura interiorana de forma mais ampla. A faixa título, Vento Sul, é emocionante, por ambientar uma ancestralidade indígena e abrir o álbum com um tema sulino, ao mesmo tempo que introduz a variedade temática e rítmica do que vem a seguir. Tem muito choro e seresta. As canções abrangem paisagens, costumes e amores de um Brasil de dentro, diverso do tão celebrado estereótipo litorâneo cosmopolita.

Yamandu é um artista excepcional. Ao colocar sua energia humana criativa na voz, aflora sua personalidade equilibrada entre um jeitão abagualado e um refinamento autocrítico e generoso.

Conforme comentou Cristiano Bernardes no Twitter, acompanhando nossa thread, “O Paulo César Pinheiro é um gigante. O Yamandu é um artista que dividiu águas. Esse disco tem que sentar e escutar com toda atenção e carinho”.

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