Conhecendo a poesia do uruguaio Guillermo Rallo após 40 anos
*reportagem publicada no Jornal do Comércio, no caderno especial da Feira do Livro de Porto Alegre (acesse aqui a versão online)
Preso político, o uruguaio Guillermo Rallo remeteu à família em 1973 um livro de poesias escrito no cárcere. A produção artesanal, que incluía ilustrações à tinta guache, cumpriu a função na época de comunicar sua dor e seu amor à mulher e aos filhos, e ficou guardada. Após 40 anos, o livro finalmente foi editado pela Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag).
A nova edição de Cantos de amor y dolor reproduz fielmente o original e inclui uma introdução bilíngue do autor. Nela, o leitor entra em contato com a história de Rallo, que resolveu entrar para o movimento revolucionário Tupamaro em 1969 quando a repressão se intensificou no regime ditatorial do Uruguai. Foi preso em 1972 e ficou sob custódia dos militares durante 12 anos e uma semana.
Em entrevista, Rallo explicou as razões que o levaram a se engajar no movimento armado. Ele era comerciante e atuava no sindicato dos comerciários em Montevidéu. Após 10 anos de trabalho, foi demitido por causa da atuação sindical, sem indenização alguma. Sua esposa estava grávida. A repressão e a violência do regime haviam aumentado. O estopim teria sido o assassinato de uma amiga pela polícia, durante um protesto na Universidade da República do Uruguai. “Cheguei à conclusão de que não poderia mais responder às balas apenas com palavras de ordem”, lembra.
Relatando os detalhes de sua prisão, Rallo destaca que ficou detido, primeiro, em um quartel em Montevidéu, onde dormia no estábulo. Foi torturado por afogamento: submergiam sua cabeça em um tanque cheio de água durante ao interrogatório. “Nunca achava a resposta correta, então mergulhavam de novo”, conta. Após sucessivas sessões, teria ficado desacordado e a tortura terminou. Como todos os seus companheiros já haviam “caído”, acredita que foi poupado e não mais torturado fisicamente.
Rallo passava meses sem ver a família. Costumava enviar poemas de Pablo Neruda à família. Até que um companheiro perguntou por que ele não escrevia os próprios versos. A provocação surtiu efeito. “Os primeiros poemas eram prosa vertical”, recorda. Depois, começou a “juntar melhor as palavras” e os versos foram melhorando. Quando transferido ao presídio de Libertad, recém-construído, recebeu de presente de outro detido guaches inglesas. Começou a pintar em azulejos, com a ajuda do companheiro artista Elbio Ferrario. Estavam criadas as condições para a confecção de um projeto artístico pessoal que iria relatar de forma única um período difícil na história uruguaia, que só agora vem a público.
Aos 76 anos, Guillermo Rallo autografou Cantos de amor y dolor no dia 14 de novembro na 60ª Feira do Livro de Porto Alegre. Em dezembro, o lançamento será no Museo de la Memória (Mume) em Montevidéu. As vendas devem cobrir os custos de publicação. O excedente será repassado para apoiar a libertação de cinco presos políticos cubanos detidos há 15 anos nos Estados Unidos.
Foto: Claiton Dornelles |
A nova edição de Cantos de amor y dolor reproduz fielmente o original e inclui uma introdução bilíngue do autor. Nela, o leitor entra em contato com a história de Rallo, que resolveu entrar para o movimento revolucionário Tupamaro em 1969 quando a repressão se intensificou no regime ditatorial do Uruguai. Foi preso em 1972 e ficou sob custódia dos militares durante 12 anos e uma semana.
Em entrevista, Rallo explicou as razões que o levaram a se engajar no movimento armado. Ele era comerciante e atuava no sindicato dos comerciários em Montevidéu. Após 10 anos de trabalho, foi demitido por causa da atuação sindical, sem indenização alguma. Sua esposa estava grávida. A repressão e a violência do regime haviam aumentado. O estopim teria sido o assassinato de uma amiga pela polícia, durante um protesto na Universidade da República do Uruguai. “Cheguei à conclusão de que não poderia mais responder às balas apenas com palavras de ordem”, lembra.
Relatando os detalhes de sua prisão, Rallo destaca que ficou detido, primeiro, em um quartel em Montevidéu, onde dormia no estábulo. Foi torturado por afogamento: submergiam sua cabeça em um tanque cheio de água durante ao interrogatório. “Nunca achava a resposta correta, então mergulhavam de novo”, conta. Após sucessivas sessões, teria ficado desacordado e a tortura terminou. Como todos os seus companheiros já haviam “caído”, acredita que foi poupado e não mais torturado fisicamente.
Rallo passava meses sem ver a família. Costumava enviar poemas de Pablo Neruda à família. Até que um companheiro perguntou por que ele não escrevia os próprios versos. A provocação surtiu efeito. “Os primeiros poemas eram prosa vertical”, recorda. Depois, começou a “juntar melhor as palavras” e os versos foram melhorando. Quando transferido ao presídio de Libertad, recém-construído, recebeu de presente de outro detido guaches inglesas. Começou a pintar em azulejos, com a ajuda do companheiro artista Elbio Ferrario. Estavam criadas as condições para a confecção de um projeto artístico pessoal que iria relatar de forma única um período difícil na história uruguaia, que só agora vem a público.
Aos 76 anos, Guillermo Rallo autografou Cantos de amor y dolor no dia 14 de novembro na 60ª Feira do Livro de Porto Alegre. Em dezembro, o lançamento será no Museo de la Memória (Mume) em Montevidéu. As vendas devem cobrir os custos de publicação. O excedente será repassado para apoiar a libertação de cinco presos políticos cubanos detidos há 15 anos nos Estados Unidos.
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