Gauchismo no Seminário Internacional da Comunicação da PUCRS
Ontem apresentei mais uma parte de minha pesquisa sobre o gauchismo em Passo Fundo no XII Seminário Internacional da Comunicação da PUCRS. O tema foi a questão midiática na construção de uma identidade excêntrica na cidade. A seguir, leia o resumo que foi publicado nos anais do evento e o resumo expandido que entreguei para avaliação do Grupo de Trabalho Comunicação e Cultura, coordenado pelas professoras Dra. Ana Carolina Escosteguy e Dra. Paula Puhl.
A legitimação da identidade gauchesca na mídia de Passo Fundo
João Vicente Ribas
Jornalista, Mestre em História
Universidade de Passo Fundo
O gauchismo no município de Passo Fundo é uma representação cultural excêntrica, que se legitima por fatores políticos e midiáticos. Observa-se que são destinados sistematicamente recursos públicos para produção de eventos, consagrados em um discurso anacrônico de culto a raízes. Este processo se apóia e estimula um fenômeno midiático análogo à identificação hegemônica estadual. Com a mundialização, a pretensa exclusividade local se manifesta através de recursos amplamente compartilhados na cultura da mídia.
Palavras-chave
gauchismo - identidade cultural - representação - mídia - estudos culturais
Resumo expandido
Tornou-se lugar comum afirmar que a globalização provocou a afirmação das identidades regionais, a partir da segunda metade do século XX. Mas pesquisando o gauchismo em Passo Fundo, cidade ao norte do Rio Grande do Sul, pude observar que este regionalismo se apoiou na cultura da mídia, produzindo um anacronismo.
Historicamente em uma localidade onde viveram índios, caboclos, tropeiros e outros tipos sociais, exceto gaúchos, este último passou a dominar o repertório imagético e o calendário de eventos a partir dos anos 1980. Dois fatores foram determinantes na legitimação excêntrica da representação cultural gauchesca naquele município.
O primeiro processo deu-se no campo político, pois as prefeituras brasileiras ganharam crescente autonomia na aplicação de recursos (inclusive na pasta da Cultura) após a Constituição de 1988. Também foi importante o processo de emancipações municipais, que reduziu o território e praticamente extinguiu a área rural de Passo Fundo no início dos anos 1990. É nesta época que inicia uma prática que acabaria se consagrando, de aprovação de recursos públicos para produção de eventos gauchescos, fossem de iniciativa privada ou projetos da própria Câmara de Vereadores. A saber: Festival de Folclore, Rodeio, Mostra da Cultura Gaúcha, filme Gaúcho de Passo Fundo, etc.
Esta política estimulou e se apoiou em um segundo processo, midiático, análogo ao fenômeno identitário estadual. O gauchismo, como fonte hegemônica da identidade passofundense, foi legitimado através de uma cultura da mídia instalada a partir de tecnologias de informação que intrinsecamente requerem referenciais imagéticos de ligeira assimilação para engrenar sua linguagem.
Assim, na emergência político-midiática da urbanização de Passo Fundo, incorporou-se um repertório excêntrico, em detrimento de referências histórico-culturais locais, como o tropeirismo paulista ou a estação ferroviária, que determinaram o desenvolvimento da cidade para ser o que é hoje.
Leia mais sobre o tema:
100 anos de prosperidade + 50 anos de gauchismo
De que importa quem foi Salomé
A diferença entre o passo-fundense e a vaca holandesa
Teixeirinha Bangue-Bangue
A cuia na praça
Síndrome vira-latas em Passo Fundo, Tchê!
A legitimação da identidade gauchesca na mídia de Passo Fundo
João Vicente Ribas
Jornalista, Mestre em História
Universidade de Passo Fundo
O gauchismo no município de Passo Fundo é uma representação cultural excêntrica, que se legitima por fatores políticos e midiáticos. Observa-se que são destinados sistematicamente recursos públicos para produção de eventos, consagrados em um discurso anacrônico de culto a raízes. Este processo se apóia e estimula um fenômeno midiático análogo à identificação hegemônica estadual. Com a mundialização, a pretensa exclusividade local se manifesta através de recursos amplamente compartilhados na cultura da mídia.
Palavras-chave
gauchismo - identidade cultural - representação - mídia - estudos culturais
Resumo expandido
Tornou-se lugar comum afirmar que a globalização provocou a afirmação das identidades regionais, a partir da segunda metade do século XX. Mas pesquisando o gauchismo em Passo Fundo, cidade ao norte do Rio Grande do Sul, pude observar que este regionalismo se apoiou na cultura da mídia, produzindo um anacronismo.
Historicamente em uma localidade onde viveram índios, caboclos, tropeiros e outros tipos sociais, exceto gaúchos, este último passou a dominar o repertório imagético e o calendário de eventos a partir dos anos 1980. Dois fatores foram determinantes na legitimação excêntrica da representação cultural gauchesca naquele município.
O primeiro processo deu-se no campo político, pois as prefeituras brasileiras ganharam crescente autonomia na aplicação de recursos (inclusive na pasta da Cultura) após a Constituição de 1988. Também foi importante o processo de emancipações municipais, que reduziu o território e praticamente extinguiu a área rural de Passo Fundo no início dos anos 1990. É nesta época que inicia uma prática que acabaria se consagrando, de aprovação de recursos públicos para produção de eventos gauchescos, fossem de iniciativa privada ou projetos da própria Câmara de Vereadores. A saber: Festival de Folclore, Rodeio, Mostra da Cultura Gaúcha, filme Gaúcho de Passo Fundo, etc.
Esta política estimulou e se apoiou em um segundo processo, midiático, análogo ao fenômeno identitário estadual. O gauchismo, como fonte hegemônica da identidade passofundense, foi legitimado através de uma cultura da mídia instalada a partir de tecnologias de informação que intrinsecamente requerem referenciais imagéticos de ligeira assimilação para engrenar sua linguagem.
Assim, na emergência político-midiática da urbanização de Passo Fundo, incorporou-se um repertório excêntrico, em detrimento de referências histórico-culturais locais, como o tropeirismo paulista ou a estação ferroviária, que determinaram o desenvolvimento da cidade para ser o que é hoje.
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