Califórnia da Canção Tradicionalista não!

LP da edição de 1992.
É com entusiasmo que fiquei sabendo da notícia do retorno da Califórnia da Canção Nativa. Principalmente após anúncio dos shows que compõem a programação. Apesar do domínio tradicionalista sobre os festivais nativistas que marcou as últimas três décadas, ando otimista.

Com apresentações de Renato Borghetti, Bebeto Alves e Tambo do Bando o público mais velho terá chance de lembrar, e o mais novo de conhecer, o que de mais vanguarda já se produziu na música gaúcha.

Acesse aqui o site do festival.

Aqui é preciso iniciarmos um pequeno glossário. Escrevi música gaúcha no último parágrafo no sentido gentílico, abrangente. Não quis dizer que aqueles artistas são os melhores de todos os tempos, mas que estão entre eles. Já no início do texto, quando os adjetivos nativa e nativistas acompanham canção e festivais, não é por intenção, é por serem expressões consagradas.

Vale lembrar que o conceito nativista advém de um movimento cultural que dominou muitos corações nas décadas de 70 e 80. Aqui no sul, também vivíamos o espírito dos festivais de MPB, desejando cantarmos o local em harmonia com a mundialização. Acreditávamos poder ser gaúchos contemporâneos. Primeiro, para reverenciar raízes tínhamos que recorrer a fontes culturais e históricas. Segundo, para sermos homens do nosso tempo tínhamos que estar abertos ao que de melhor se podia fazer em termos musicais e poéticos.

Daí o que surgiu? Renato Borghetti estimulou a juventude a não ter vergonha de combinar  alpargatas com camiseta. Bebeto Alves ajudou a estendermos a mão aos vizinhos castelhanos. E o grupo Tambo do Bando proporcionou contraponto à lógica ruralista que começava a dominar os palcos. Isto sucintamente. Para ler mais sobre estes artistas, acesse os textos abaixo:

Mais Uma Canção - filme sobre Bebeto Alves
Bebeto Alves, devorai-vos
Entre a vaia e o aplauso dos festivais
Deixem seus olhos fixos
Os contatos imediatos do terceiro mundo
Te gusta los Beatles, prenda minha?

Por fim, atenção ao “ismo”. Este sufixo de origem grega exprime ideias de sistema político, religião, ideologia, entre outros. Sucedendo tradição, torna-se matéria de um movimento conservador, cívico, normativo, retrógado. Sucedendo nativo, cristaliza um passo à esquerda, em direção à miscigenação, ao deleite, à criatividade, à vanguarda. Por tanto, por favor, pelo bem da música gaúcha, não confundam nativismo com tradicionalismo. E viva a Califórnia da Canção Nativa!

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