10 discos, 2 EPs e 1 single para iniciar 2017 (agora valendo)


Para embalar 2017, antes que comecem os lançamentos fonográficos (há algumas boas promessas, como os novos trabalhos de Jorge Drexler e de Vitor Ramil), vamos registrar esta grande lista abaixo, com discos, EPs e singles lançados no ano que passou. Estão todos no Spotify, onde organizamos uma playlist. Tem cancionistas, homens e mulheres, e tem música instrumental. Passeia desde o interior do Rio Grande do Sul até o de São Paulo, espichando a estrada em Joinville, Curitiba, Buenos Aires, Montevidéu, Patagônia e volando hasta Madrid.




Ana Paula da Silva - Raiz Forte
Compositora e cantora catarinense, toca violão com extremo domínio rítmico e harmônico. No sexto álbum de um carreira de vinte anos, mostra todas as suas qualidades como autora, produtora e intérprete. Raiz Forte é impecável. Um amálgama de tradições musicais populares brasileiras, com arranjos que acentuam a diversidade percussiva e ao mesmo tempo demarcam harmonias complexas (destaque para o piano de Davi Sartori). Mas tem espaço ainda para uma versão do clássico latino-americano, Casamiento de Negros, de Violeta Parra. Ouça Cantadora, como amostra do intrincamento muito bem acabado dos ingredientes rítmicos e harmônicos, sobre uma de suas canções formidáveis, e Miudinho, para se abismar com o enorme talento individual de Ana Paula da Silva.


Melina Moguilevsky - Mudar
Jovem cantautora, revelação do ano passado, reconhecida pela imprensa argentina especializada. Disco tem produção de alto nível, com arranjos contemporâneos para temas de color folclórico e evidente influência jazzística. O ambiente intimista de piano e voz, presente na maior parte das faixas, extrapola para improvisações, arranjos de cordas e sopros em alguns momentos. Já em Hasta, a sofisticação encontra um nuance pop na levada e no canto, plasmando originalidade atordoante.


Kátya Teixeira As Flores do Meu Terreiro
Música do interior do Brasil. A paulista Kátya Teixeira circula o país com o projeto Dandô, aproximando-se de artistas dos mais longínquos rincões, bem como de seu público. No quinto disco da carreira, esta circulação traduz-se na figura do menestrel, do trovador que empunha o violão (ou viola, ou rabeca, ou cuatro... ela toca todos) e canta suas composições em meio ao povoado. Mais-Que-Perfeito, de ares medievais, representa bem esta intenção. O disco é longo, contém 17 boas canções, a exemplo de Minha Moda, moda de viola que com seu canto feminino recai em uma dimensão mais intimista. Outra é a sertaneja Ensimesmada, em que a delicadeza da intérprete emoldura a aspereza temática e melódica. Não se pode deixar de comentar a beleza da capa do álbum, desenhada por Naila Pommé.


Leo Sosa - Es Ahora
Montevideano radicado em Porto Alegre, o cantautor Leo Sosa celebra as duas capitais em seu álbum de estreia. São sete faixas de pegada pop, que mantêm a base acústica. Participações de músicos de ambas cidades garantem o intercâmbio que pode ser notado também nos diversos ritmos das canções. A fusão de tambores e scratches em Raíces aponta um norte, com Richard Serraria, Joaquin Plada e DJ Duke Jay. Destaque ainda para a linda melodia de El Tiempo y La Ciudad, com Zelito Ramos.


Rodrigo Nassif Quarteto - Mar de Dentro
Segundo álbum do quarteto instrumental de Porto Alegre que tocou em Londres neste mês de março. Cada vez mais distante da postura erudita que marcou os discos da carreira solo do violonista Rodrigo Nassif, o EP Mar de Dentro tem peças de estrutura similar a canções pop. As batidas estão cada vez mais soltas, como quem toca rock. Leia mais aqui sobre Rodrigo Nassif Quarteto.





Arian Houshmand - Nava
Instrumentista iraniano radicado na Argentina relê clássicos da canção popular com arranjos ecléticos que evocam folclores de diversas partes do mundo. Há as brasileiríssimas Águas de Março e Desafinado no repertório, para introduzir nós brasileiros mais comodamente neste universo elástico de Arian Houshmand. Sem virtuosismos espalhafatosos e técnica limpa de violão, o disco mostra arranjos amalgamados de escalas e ambientes improváveis. Preste atenção em Eleanor Rigby, interpretação bem da escola do violão clássico para um hit pop dos Beatles. Depois a transposição que o arranjador vai tecendo entre o orientalismo do canto e da sitar no início da faixa Shekar e Ahoo, até o final apenas com violão. Vale muito ouvir o suingue de Trenke Todorke/ Devojko Mori.


Milongas Extremas - Temprano
Segundo disco da banda de violões de nylon de Montevidéu. Conforme anunciado no nome, o repertório é exclusivamente de milongas. Autoexplicativo, o adjetivo "extremas" indica não se tratar de qualquer milonga. Há uma pegada roqueira evidente, um pulso de energia que marca o compasso característico do gênero platino com uma dinâmica bem marcada entre forte e pianinho. Temprano é bem semelhante ao disco anterior do grupo, o que não é um demérito, mas até um reforço de um estilo original que se cria em nossos dias e que certamente irá influenciar as próximas gerações. Destaque para Manantiales, composição que sintetiza bem o trabalho, gravada em uma interpretação que lembra as apresentações ao vivo nas quais a banda se formou, junto a um público entusiasmado. Vale mencionar também La lágrima, com arranjo de saxofone, instrumento ausente no primeiro álbum, mas que começou a aparecer nos shows, conferindo uma ambiência mais cosmopolita ainda e, claro, agregando mais intensidade.


Carmen Corrêa - Doutro Lado
Cancionista de São Leopoldo, há alguns anos participa com destaque na cena independente da capital gaúcha. Agora acaba de se mudar para São Paulo. Doutro Lado é seu primeiro disco. Nele suas canções cândidas, de poesia confessional, também gingaram e diversificaram com texturas mais secas, de guitarras, percussões e efeitos eletrônicos. Olhe bem, a última faixa, representa bem a proposta do disco e o encontro profícuo entre Carmen Corrêa e o produtor Marcelo Fruet.



Pedro Guerra - Arde Estocolmo
Cantautor espanhol de larga carreira, lançou no último ano dois discos simultaneamente. Num deles musica sonetos de Joaquin Sabina (14 de Ciento Volando de 14), e noutro apresenta novas canções suas após longo período sem lançar material inédito (Arde Estocolmo). Pedro Guerra é de Tenerife, Ilhas Canárias, e fez carreira em Madrid. Canta e dedilha o violão suavemente, como um cancionista contemporâneo. Obviamente ares do norte da África comparecem em suas canções. Neste disco novo, evidencia-se a reverência às origens nas células de percussão. Destaque para a faixa bônus Camile Claudel e para Márgenes, de letra poético-política e embalo pop, com melodia marcante.


Juliana Cortes - Gris
De Curitiba, cantora de acento grave na escolha do repertório. Não é de refestelamento. É de pulso forte e profundo. De tom menor. Para interpretar este arcabouço soturno, circunspecto, sua entoação suave, seu timbre mavioso. A combinação funciona formidavelmente. Juliana Cortes canta novas canções neste que é seu segundo disco, incluindo versões para poemas de Paulo Leminski, e parcerias de compositores como Arrigo Barnabé, Paulinho Moska e Vitor Ramil. O disco Gris inicia com Uma carta uma brasa através, em que os melismas entoados no refrão já revelam a beleza de sua voz e prometem ao ouvinte um gratificante passeio que é escutar todo o trabalho, de faixa a faixa. Certamente, um magnífico destaque fonográfico do ano que passou, pela consistência na produção musical de Dante Ozzetti e por confirmar, o que já se suspeitava no primeiro disco, uma grande revelação da MPB.


Lisandro Aristimuño - Constelaciones
A obra de Lisandro Aristimuño leva-nos a um certo estado de espírito onírico, ambientado na Patagônia. Não bastasse sua origem, também a temática das canções e os arranjos repletos de camadas transportam o ouvinte para o sol que se abre em meio à geleira. Mas seu nono álbum, Constelaciones, é mais econômico nos arranjos - varia da crueza do rock ao formato mais acústico, baseado em violão e voz. Destaque para a minimalista Good Morning Life e para a romântica Tres Estaciones.


Poty Burch - Casa
A balada, o blues, um certo ambiente estadunidense veste as canções de Poty Burch. Ao mesmo tempo, sua entoação limpa, entre yeah, yeah, yeah's, serve para contar histórias, como o bossanovista que mostra suas criações aos amigos dentro de um apartamento. De Jaguarão (RS), integrou o coletivo “ESCUTA - O Som do Compositor” em 2013. Neste EP, gravou cinco canções sob produção de Ian Ramil e Guilherme Ceron, e com participação de João Ortácio, Leandro Schirmer e Zelito.


Adriana Deffenti - Controversa
Cantora e compositora, autora de álbuns consistentes e premiados, Adriana Deffenti lançou no final de 2016 este single que representa uma virada em sua carreira, conforme propõe. Não sabemos exatamente o que ela quer dizer com isso, mas se percebe que talvez esteja "se levando menos a sério". O resultado é um samba que radicaliza na sinceridade, extrapolando a ironia, "lacrando" e "sambando na cara da sociedade".

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