Senta aí que vou mostrar uma canção que eu fiz – Cláudio Levitan

Cláudio Levitan - conheça melhor no site claudiolevitan.com
Prometi que nunca escreveria sobre Cláudio Levitan. Na última terça-feira, o compositor subiu ao palco do Teatro Renascença. Tripulante recém-desembarcado da Europa, não fora cumprir nenhuma turnê. Tivesse, justificaria muitas linhas por aí impressas e outras reluzindo no ecrã.

Era mais uma edição do projeto Sons da Cidade. Tocou ao violão uma dúzia de canções, entre novas e velhas. Narrou sua investida no estrangeiro, onde foi sentar no sofá da casa do filho Lucas em Londres e de outros entes, em Hamburgo e Israel. Voltou desta viagem “à toa” e sentou frente ao público de Porto Alegre, como que de forma descompromissada, despojada. Parecia convidar: “Senta aí que vou mostrar uma música que eu fiz”.

Esta atitude aparente enganaria a audiência mais desatenta, que poderia achar que assistira a uma edição do Autoral Social Clube, em que algum aspirante e talentoso compositor estava a revelar-se timidamente. Porém, tratava-se de um dos mais importantes cancionistas da música urbana porto-alegrense, com longa e consistente carreira. E a postura irônica se manteve o show inteiro.

Era a primeira apresentação na capital, após o contato com costumes europeus, Levitan pediu à plateia que desligasse os celulares. Então se ouviu tocar o seu, no bolso do paletó. Era a deixa para puxar os versos de amor de "Telemarketing". No final revelou que pretendia gravar esta música no disco novo que está preparando. Tinha o título provisório de “Inúteis”. Mas parece que desistiu do nome por pressão familiar.

Cantou em portunhol, espanhol e inglês. Na língua do país onde vive seu filho, compôs duas novas canções. Diz que não fizeram muito sucesso nas sessões de open mic das quais participou no velho continente. “O pessoal gostava mais das milongas”.

Dentre as “das antiga”, lembrou o romance entre um pedreiro e um doutor, "Garofêncio", além de “Minha Loucura”, “Milonga do Fim” e “Nada Mais”. Esta última foi sucesso com o grupo Saracura, gravada no clássico disco de 1982, uma das pedras fundamentais da nossa discografia regional. Faltou só alguma do repertório do Tangos & Tragédias, outro trabalho fundamental na cultura porto-alegrense, com o qual o compositor colaborou.

No clima de informalidade, Levitan às vezes tropeçava alguma letra. Problema algum. Numa delas disse que durante a viagem aprendeu que não se deve pedir desculpas. “Nós somos o que somos”. Na sequência: “Desculpe interromper esta canção”.

Ao final da noite, juntei umas moedas para alcançar ao guardador de carro, mas o sujeito não estava mais lá. Antes, havia perguntado quem era o senhor grisalho, de óculos vermelhos, que chegou ao teatro empunhando um violão. Fiquei de lhe contar melhor depois do show. Também prometi uma vez que nunca escreveria sobre Cláudio Levitan.

Alfredinho Cueca - Lucas Levitan

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