Cholas
La Paz |
As cholas são a cultura boliviana em trânsito. Agridem a parca percepção turística que tenta fotografá-las como souvenir.
Impossível resistir à tentação de colorir nossos registros de viagem com suas polleras (saias) e sombreros (chapéus), pois estão em toda parte, principalmente no comércio informal callejero (das ruas). Mas não brindam um sorriso aos paparazzi. Até se escondem e xingam os atrevidos.
Durante nossa estada na Bolívia neste início de ano, fiquei intimidado com a reação adversa delas frente às minhas investidas fotográficas. Demorei a entender e a me permitir ousar roubar-lhes a estampa.
Tiwanaku |
Carregam riqueza de detalhes na escolha das cores, comprimento das saias, posição e modelo de chapéus. Para o turista apressado, não passam de borrões de tinta, respingados por todas as cidades bolivianas. Mas com uma lupa, percebem-se as diversas texturas regionais.
O gesto a priori antipático de negar serem fotografadas transformou-se em minha percepção ao passar dos dias naquela terra. Começou a significar principalmente dignidade. O oposto à gratuidade e à leviandade.
Dizem que há motivos espirituais para as cholas hostilizarem os fotógrafos. Mas o que fica de mais importante não são suas razões, mas sua atitude. Seu simples “vender caro” o que lhes é mais seu, a aparência, acaba representando muito o posicionamento político-social boliviano atual, que elegeu o primeiro presidente indígena da América Latina.
Ao contrário do brasileiro receptivo que para lograr dividendos do turismo bajula demais os estrangeiros, arreganhando-se e dançando fácil, as cholas falam seu espanhol impregnado de sotaque de dialetos indígenas, de forma que temos que pedir para repetirem várias vezes até entendermos.
E a dificuldade em fotografá-las só contribuiu para que eu enxergasse além das suas efígies.
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