+2 documentários para despertar en Latinoamérica
2021 iniciando, com a maior parte dos eventos musicais suspensos, em plena pandemia de Covid-19. Enquanto isso, uma alternativa de encontro entre artistas e público tem emergido na forma de documentário. São diversos os estilos. Há curtas, médias e longas-metragens. Há coleção de memórias, resgate de origens e performances inéditas quase "videoclipticas". Selecionei duas amostras do que mais me chamou atenção nos últimos meses. Fica o convite para entrar em contato com alguns nomes da música latino-americana no formato possível nestes dias vigentes (e em franco desenvolvimento).
1. The Road to Miss Colombia - Lido Pimienta
O álbum Miss Colombia tem sido premiado e reconhecido pela crítica como um trabalho de grande relevância artística na diversa música contemporânea. Lido Pimienta é reflexo dos tempos que vivemos na sua mais positiva e bem acabada expressão. Imigrante colombiana radicada no Canadá, descendente de negros e indígenas, é tanto uma cantora de expressividade única e técnica apurada, quanto uma compositora de mão cheia, que cuida de arranjos e detalhes da produção, além de escrever canções pertinentes aos assuntos mais urgentes.
No documentário de 18 minutos, que mostra os bastidores das gravações desse disco, a artista também conta de onde veio e principalmente o que pensa sobre a arte e a sociedade. Revela suas múltiplas facetas além da música: mãe, filha, pintora, gestora, intelectual.
Vale destacar a concepção filosófica acerca da noção de tradição, que Lido Pimienta expressa nas canções e argumenta no documentário. Diz que, ao revisitar as gentes que costumam praticar arte, música e danças típicas em Palenque, não pretendia romantizar suas origens, mas voltar a entrar em contato íntimo com as vivências familiares localizadas em um ponto particular do mundo e da história.
Enquanto reelabora essas tradições colombianas, Lido Pimienta cria uma música contemporânea que acabará contribuindo decisivamente para a configuração de uma nova sedimentação cultural diaspórica transnacional, a qual tem um sistema e um mercado em franca expansão a partir do Canadá.
2. Paisagens - Leandro Maia
Há dois anos publiquei aqui no blog uma lista de “objetos ainda chamados disco”. Entre eles, estava Leandro Maia com o álbum “Palavreio”, com um trabalho gráfico apurado. Agora, o mesmo cantor e compositor figura na lista de documentários musicais, o que é uma tendência nos mercados e cenas alternativas. Um formato pouco visitado até então, mas que com a pandemia e as novas formas de circulação de conteúdo, acaba se tornando interessante tanto para o público quanto para os artistas.
No documentário, a música requer uma paisagem. Desta forma, exige que o artista pense sua música com imagem (muito mais além de uma foto ou figura de capa de álbum, ou um encarte bem elaborado). Nesse caso, Leandro Maia esmerou-se em narrar histórias de vida, encadeando as canções e visitando locais de Pelotas que as complementam.
Há espaço na tela para nostalgia (fuscas), para amizades, para coreografia (sua esposa Maria dança em “Diadorim”) e para crônica política. Em 50 minutos, Leandro Maia revela suas verves de contador, cantador e passeador. Enquanto mostra suas preferências e suas andanças, oferece um novo show, que contém videoclipes e poderia gerar um disco. Tecnicamente, a captação de som é ótima, considerando que as locações eram ao ar livre, muitas próximas à lagoa, com vento. Em alguns momentos, como na estação de trem, o ruído dos vagões nos trilhos compõe a performance. Já em “Palavreio”, canta com acompanhamento da passarinhada.
Pra quem tiver tempo e interesse, vão aqui outras produções muito boas, mas que ficaram de fora do comentário detalhado acima:
- AmarElo: É Tudo Pra Ontem - Emicida
- El Son Del Chile Frito - Lila Downs
- Próximos Distantes - Doidivanas
- Gastón Lafourcade: Quien Me Tañe Escucha Mis Voces - Natalia Fafourcade
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