Gosto de banjos e headbanging


Há pouco mais de um ano, assisti à incrível Lisa Leblanc no teatro Corona em Montreal (Canadá). Na ocasião, já sabia que a cantora-compositora filiava-se ao que chama de gênero Folk Trash, e que gostava de banjos e headbanging. Mas não imaginava o quanto era potente na sua performance o tensionamento entre o moderno e o tradicional, a cidade e o campo, a energia explosiva relacionada ao rock e o investimento confessional da canção folk.

Em dois álbuns, um EP e oito videoclipes, Lisa LeBlanc transita por temáticas contrastadas e disputadas. Posicionando-se e desafiando ideias preestabelecidas, encontra soluções estéticas e narrativas que vão ao encontro da diversidade. Três temas de embate que envolvem sua carreira merecem destaque: os usos e representações que ela faz do banjo (tradicional, feminino, atual), as disputas em torno do idioma (francês, chiac, inglês), e o tensionamento da figura do caubói (macho, kitsch).

A canadense iniciou carreira e segue gerenciando-a a partir da cidade de Montreal, na província francófona do Quebec, o grande centro urbano mais próximo de sua província natal, New Brunswick, também de colonização francesa. O primeiro disco (Lisa LeBlanc, 2012) é cantado inteiramente em francês, com expressões originais da região em que nasceu e outras anglófonas.

Após um EP em 2014 cantando pela primeira vez em inglês (Highways, Heartaches and Time Well Wasted), lançou o segundo disco em 2016 (Why You Wanna Leave, Runaway Queen?) quase todo neste idioma. Suas canções revelam uma maneira pessoal de se apropriar e produzir de forma bilíngue, com expressões típicas da cultura acadiana, do leste canadense, do dialeto chiac. Além disso, os usos sonoros, imagéticos e performáticos que ela faz do banjo, carregando tradição e traduzindo situações do cotidiano, incorporam hibridismo de gêneros musicais, conjugando elementos do folk, do rock e da chanson francesa.

Para além das canções, seus videoclipes possuem inúmeras significações, principalmente em relação ao imaginário do caubói, com o qual ela satiriza e problematiza, levando em conta dicotomias paradigmáticas como antigo/moderno e masculino/feminino. Nos ótimos vídeos de J'pas un cowboy (2014) e Gold Diggin’ Hoedown (2015), questionamentos explícitos à cultura western são colocados em tela - com direito a linguagem à la Tarantino e a participação de uma fã japonesa cantando em videoquê.

A trajetória da canadense Lisa LeBlanc foi tema de um estudo sobre diversidade cultural e tradição na música contemporânea, que apresentei no congresso da Intercom em 2018. Acesse no link abaixo:





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