Artistas e jornalistas se mobilizam para evitar fim da TVE e FM Cultura
Félix, da série "Os Filosofinhos" (produzida para a TVE/RS pela Otto Desenhos Animados) apoia a Fundação Piratini |
Em jornais, portais de notícias e programas de televisão, durante esta semana, houve diversas manifestações em prol da Fundação Piratini. Algumas delas foram simbólicas, como no programa Jornal do Almoço da RBS TV (afiliada à Globo) de quinta-feira (24), em que o cantor Tonho Crocco da banda Ultramen apresentou-se com a camiseta que caracteriza o movimento: “Salve, salve, TVE e FM Cultura”. Já na emissora pública, no dia 22, o professor e produtor cultural Francisco Marshall havia quebrado o roteiro e oferecido uma rosa vermelha ao apresentador do programa Estação Cultura Newton Silva. Estes gestos de resistência se somaram aos gritos de ordem entoados diariamente na Praça da Matriz, a um ato show promovido em frente ao palácio do governo na noite do dia 24, e à insurgência de repórteres, editores, cinegrafistas e técnicos que se uniriam para colocar no ar na programação da TVE e da FM Cultura matérias e debates sobre as reações que aquele pacote provocou na sociedade. Para isso precisaram enfrentar as chefias nomeadas pelo governo, que ocupam posições de direção nas emissoras.
Esta reportagem também foi publicada nos seguintes portais de notícias:
Brasil de Fato - Uma visão popular do Brasil e do mundo
Nonada - Jornalismo Travessia
O compositor Antonio Villeroy, um dos artistas que logo após o anúncio do pacote logo veio a público se manifestar contra, enfatiza que a rádio e a TV públicas coatuam e dialogam com a cultura. Villeroy lembra que esses veículos fomentam eventos na área, que por sua vez movimentam a economia e dão empregos. “A FM Cultura é a única de Porto Alegre que toca MPB e sem jabá”, observa. Vika Schabbach, produtora cultural, confirma que as emissoras públicas são as que mais dão espaço para os artistas. “O povo não se reconhece nas grandes mídias”, diz. Schabbach preocupa-se com a questão da identidade local, pois em sua opinião a grande mídia só permite que “se enxergue o externo”. Em contraponto, nas emissoras públicas “há o debate, o questionamento sobre nossa história, nossa comunidade”, conclui.
O cantor Tonho Crocco da banda Ultramen veste a camiseta da TVE e da FM Cultura durante apresentação ao vivo em programa da RBS TV, no dia 24/11. |
Governador quer economizar
Eleito sem apresentar proposta alguma durante a campanha, o governador José Ivo Sartori (PMDB) está propondo neste final do segundo ano de mandato o desmonte do Estado em áreas como pesquisa, cultura, comunicação, tecnologia e meio ambiente. Em discurso no dia 21, quando anunciou o pacote, o peemedebista justificou que o estado está em crise financeira e não tem recursos para investir em saúde, educação e segurança. A solução encontrada pelo governo estaria na economia com a demissão de cerca de 1.200 funcionários de fundações e autarquias e o desmantelamento de suas estruturas. O pacote ainda prevê a privatização de companhias como as de energia elétrica, mineração e gás, entre outras medidas.
Alexandre Leboutte, funcionário da TVE/RS, contesta esta pretensa economia e considera um erro o fechamento de fundações em período de recessão, acreditando que ano que vem deverá haver retomada. “É um ciclo, então o governo tem que trabalhar mais é na busca de receita”. Leboutte cita informação do sindicato dos técnicos tributários do estado (Afocefe), de que no ano corrente, até novembro, foram sonegados R$ 6,4 bilhões de reais referentes a ICMS. O jornalista compara, apoiando-se em dados do portal da transparência que mostram que até novembro a Fundação Piratini havia gasto R$ 23,5 milhões, de um orçamento anual previsto de R$ 34,1 milhões. Já a soma dos gastos das nove fundações ameaçadas de extinção no mesmo período é de R$ 155,8 milhões. Leboutte diz que se o governo diminuísse o número de Cargos de Confiança (CCs) e o investimento em publicidade, já garantiria a manutenção dos funcionários de carreira das fundações. Citando editais de publicidade para 2016, chama atenção para o volume de recursos dispensados apenas pelo poder executivo (R$ 80,6 milhões) e pelo banco do estado, o Banrisul (R$ 48,7 milhões), que somam quase o mesmo que se gasta com as fundações que se quer extinguir. Destes recursos, R$ 3,5 milhões foram aplicados pelo governo em campanha publicitária para informar sobre a crise. Boa parte foi para emissoras de rádio e TV privadas. Estes dados fazem parte de um dossiê elaborado pelo movimento de preservação das fundações que está servindo de subsídio para convencimento dos deputados que irão votar o pacote até o final do ano.
Emissoras públicas cumprem papel complementar na radiodifusão brasileira
Os defensores da radiodifusão pública admitem que o papel que essas emissoras cumprem, em complementaridade com os sistemas privados e estatais, conforme estabelece a Constituição, ainda não são muito claros para a sociedade em geral. O jornalista Luciano Alfonso, funcionário da TVE há 28 anos, afirma que “existe um papel de comunicação voltada para a sociedade, que abraça causas que a TV privada não abraça, pois não é feita pra ganhar lucro”. Na área do jornalismo, por exemplo, acredita que uma emissora pública deve fazer um jornal mais analítico, que auxilie a sociedade a se ver e compreender questões. “Mas às vezes o entendimento dos CCs que assumem os cargos de chefia na Fundação Piratini a cada governo não é esse”, relata. O jornalista acredita que os funcionários concursados deveriam alçar cargos no topo da hierarquia administrativa da Fundação com mais facilidade. Ele lembra que a única vez em que um cargo de direção foi ocupado por alguém do quadro foi na gestão passada, em que a colega Marta Kroth foi nomeada diretora geral. Já comentando críticas de subserviência ao estado, Alfonso afirma que a TVE é atrelada ao governo por uma questão burocrática, mas que deve encontrar diferentes maneiras de se viabilizar.
O apresentador da TVE/RS, Newton Silva, recebeu no ar uma rosa vermelha do professor e produtor cultural Francisco Marshall, no dia 22/11, durante o programa Estação Cultura. |
Funcionários defendem 42 anos de compromisso com a cultura e a cidadania
O dossiê preparado pelo Movimento dos Servidores da TVE e FM Cultura para sensibilização de parlamentares e da sociedade também reúne informações sobre a história da Fundação Piratini e sua importância. Nos últimos 17 anos, suas emissoras conquistaram 96 prêmios nas áreas de jornalismo, direitos humanos e cultura. Entre eles, um dos mais respeitados prêmios do Brasil, o Vladimir Herzog de Jornalismo, concedido ao programa Nação, produção da TVE/RS transmitida em rede nacional pela TV Brasil, que trata da cultura negra.
Os funcionários da Fundação Piratini chamam atenção para outro dado importante, de que a TVE tem o maior número de horas de programação local no Rio Grande do Sul (são 35 horas e 30 minutos por semana). Já a FM Cultura é a única rádio do Estado que toca majoritariamente música popular brasileira, boa parte produzida por artistas gaúchos (são 20 horas diárias de programação local). O sinal da TVE chega, hoje, a mais de 6,5 milhões de telespectadores, por meio de 40 antenas repetidoras e uma geradora, localizada em Porto Alegre. “Esses números colocam a TVE como a segunda maior emissora de televisão do Rio Grande do Sul”, diz o dossiê. Já a FM Cultura, chega a atingir, atualmente, mais de 3 milhões de ouvintes.
Esta lista não para de crescer...
Veja mais no canal: Salve, Salve TVE E FM Cultura
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